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Quem é Caju? Este é o segundo álbum da Liniker, com 14 faixas que apresentam o pseudofruto, suas cores, sabores, texturas e toda a sua versatilidade. A gravação foi feita em modo analógico, na fita, com produção de Fejuca, Gustavo Ruiz e arranjos da Orquestra Brasil Jazz Sinfônico. Quente e solar, Caju tem um groove musical marcado, uma mistura de ritmos afrobrasileiros. Aqui já fica uma dica: ouça também o álbum visual no escuro para ter uma experiência terapêutica ✨

Na era da composição musical padronizada da viralização, Liniker subverte e lança um álbum com músicas longas, arranjos complexos e gostosos de ouvir, como uma degustação mesmo. Como ela diz: “o álbum nasce da certeza de que precisava me colocar em primeiro lugar, dizer coisas que não cabem no tempo da indústria, mas cabe no meu tempo artístico”. Cantora, compositora, atriz, empresária e uma poeta grandona – e eu posso provar! Vamos ver? 👀

Análise das letras de Caju, álbum da Liniker

1 – CAJU – quando a primeira “página” já é um pé na porta

Desde o dia 19 de agosto – data de lançamento de Caju em uma super Lua Cheia – não se falava em outra coisa. Quem é Caju? Conteúdos em vídeo nas redes sociais diziam: Liniker poderia ter dito apenas “te amo”, mas disse “Quero saber se você vai correr atrás de mim no aeroporto”. Para quem escreve, e também para quem lê, a primeira página de um livro é crucial para prender ou deixar o leitor ir embora. Se Caju fosse um livro, a primeira canção seria uma grande provocação para ficar e continuar, não acham? Onde ouvir CAJU da Liniker? Aqui

2 – TUDO – quando a gente coloca ritmo na escrita

Convido você a observar as mudanças de ritmo durante a letra, como no trecho em que Liniker diz: “tipo amor pra recordar” e “você atravessando a rua, não era hora, mas me fez suar”.

GENTE, QUE ISSO? Se poesia é ritmo, não precisa nem argumentar mais, né? Onde ouvir TUDO da Liniker? Aqui

3 – VELUDO MARROM – quando o mundo da poeta atravessa o mundo de quem lê

A letra de Veludo Marrom é como um ingresso para voltar em uma lembrança boa. Quem aí já não viveu algo parecido? A palavra tem o poder de criar essas cenas, transportar. É neste momento que o mundo da poeta Liniker atravessa o mundo de quem lê, nasce aí a identificação no texto. Além disso, a música possibilita um recurso adicional que é o arranjo musical, nesta faixa de forma apoteótica pelo arranjo da Orquestra Brasil Jazz Sinfônico, digno de trilha sonora de filme no auge da narrativa. Onde ouvir VELUDO MARROM da Liniker? Aqui

4 – AO TEU LADO – quando usa a voz (verbal ou não) a favor do texto

“Ficar à vontade pra poder me esparramar e sorrir, sem mal dar, ao seu lado”

Quem disse que a única forma de dizer é falar? Liniker usa instrumentos como voz na composição. O arranjo vai crescendo ao longo da música, como um crochê que nasce, ponto a ponto. Uma confiança vai se estabelecendo antes da entrega. Anavitória vem para acrescentar a essa intimidade, primeiro como um sussurro, depois com a junção das vozes. E aí… quem, sabe? A descrição e beleza do ordinário da vida. Onde ouvir AO TEU LADO da Liniker? Aqui

5 – ME AJUDE A SALVAR OS DOMINGOS – quando se tem referência

Liniker já falou em várias entrevistas sobre sua obsessão pela pesquisa musical. Ela é muito organizada com seu processo criativo de composição. Nessa faixa e também em outras, é possível perceber o quanto o resultado dessa busca é mesmo um repertório robusto e diverso, onde conseguimos criar com originalidade a partir das imagens, sons, texturas, sabores da nossa bagagem de sentidos.

EXEMPLO: não sei explicar o porquê, mas a melodia de “Me ajude a salvar os domingos”, principalmente no início, me lembra algo de Milton Nascimento em: “Há um menino, há um moleque”. Aliás, Milton participou da faixa “Lalange” em Indigo Borboleta Anil. Será que estou viajando? Queria muito ter participado de alguma coletiva com a Liniker para poder fazer essa pergunta! rs Onde ouvir ME AJUDE A SALVAR OS DOMINGOS da Liniker? Aqui

6 – NEGONA DOS OLHOS TERRÍVEIS – quando a gente traz o corpo ao texto

“Negona dos olhos terríveis, sereia caminhando a pé, quadril de rebolar teus sonhos, coração doce cor de mulher”. Olhos, pé, quadril, coração, a dor da mulher > o texto toma outro contorno quando trazemos o corpo à página. Aqui, além de trazer o corpo na palavra, vem também no ritmo do BaianaSystem – impossível ouvir sem se mexer. Onde ouvir NEGONA DOS OLHOS TERRÍVEIS da Liniker? Aqui

7 – MAYONGA – quando a gente traz nossa identidade na criação

Liniker se identifica como uma mulher candomblecista e aqui Mayonga vem como um passeio à tarde em Salvador, quando avista uma rezadeira na janela e pede uma reza para encontrar um amor duradouro. E tem feitiço melhor que a intenção de encontrar, sobretudo, o nosso amor próprio?

Aqui é o momento onde a vulnerabilidade dá espaço para a identidade (ou vice-versa) na criação. Assumir sua origem, saber onde estão as suas raízes, fazer disso também uma força. Já vi lindos textos nasceram a partir dessa coragem. Onde ouvir MAYONGA da Liniker? Aqui

8 – PAPO DE EDREDON – quando chegamos ao intencionado

“Debaixo das cobertas, você me ensina uma rima diferente que eu não sei”

Se a intenção foi a paixão, aqui temos uma letra poética, sutilmente erótica – se assim posso ousar dizer. Como ela descreveu, um amor safado e hipnótico acentuado com a voz da maravilhosa Melly e o baixo sensual marcado.  Onde ouvir PAPO DE EDREDON da Liniker? Aqui

9 – POPSTAR – quando a gente acrescenta coragem na criação

Aqui, a intenção da reza veio calibrada forte: agora, Liniker sabe quem é! Quando encontramos nossa voz na escrita, coisas maravilhosas podem acontecer:

“Eu não quero mais, quem não gosta de mim, vou seguindo em paz, caminho com meu coração, não duvido jamais, dos meus pés no chão, pra ter espaço aqui dentro, tem que valer minha canção”. Onde ouvir POPSTAR da Liniker? Aqui

10 – FEBRE – quando a gente assume com verdade o que quer dizer

Essa faixa começa de um jeito criativo: um áudio enviado via WhatsApp. A sequência é a verdade do sentimento descrito na página. A identificação, mais uma vez, chega com facilidade aqui através da letra. Outro ponto que chama atenção é a nostalgia que chega com o pagodão e a menção à geração que ouvia BOKALOKA – só quem viveu sabe! Onde ouvir FEBRE da Liniker? Aqui

11- POTE DE OURO – quando a rima é aliada da composição

“Seria bem mais bonito como eu sonhei um diaSermos felizes, invencíveis, cê sabia?Amor inteiro era tudo que eu queriaApaixonada no seu beijo eu seguiria”

UM DIA > SABIA > QUERIA > SEGUIRIA. Se isso não é rima intencional, não sei mais o que estou fazendo aqui! Aqui tem o sax presente que lembra alguma música da Marília Mendonça. A convidada Priscila Senna traz a mistura pernambucana de merengue com brega. Onde ouvir POTE DE OURO da Liniker? Aqui

12 – DEIXA ESTAR – quando a intuição chega na escrita

“Deixa estar, só o mistério vai te guiar, seja nos sonhos, pra qualquer lugar. Consolação à via láctea”

Liniker poderia ter feito este feat com outra pessoa que não fosse o Lulu Santos? A resposta é óbvia e ainda vem com um plus do final da mãezinha, Pabllo Vittar – que mistura certeira! Intuição é seguir o que faz sentido dentro do nosso coração, quando tudo diz o contrário. Aposto que se ela tivesse uma gravadora, talvez uma composição que lembrasse uma pegada meio anos 80 poderia estar fora do briefing. Que bom que não foi assim que aconteceu! Onde ouvir DEIXA ESTAR da Liniker? Aqui

13 – SO SPECIAL – quando escrever em outro idioma é sobre versatilidade

“Ontem à noite no quarto, você sussurrou nos meus ouvidos, todas essas coisas que eu mereço ouvir” – adendo: curiosa pra saber quais coisas, dona Liniker! kkk

Até aqui Liniker mostrou toda a sua brasilidade, mostrando seu país de origem, sem deixar de trazer referências de outras localidades que conversam com sua história e crenças. Ter uma música em inglês mostra a sua versatilidade quando o assunto é composição. O que podemos aprender com isso? Caju é um dos frutos brasileiros mais exportados! Tendeu? O cachê em gringo vem forte, mamãe – e leva o Tropkillaz junto! Onde ouvir SO SPECIAL da Liniker? Aqui

14 – Take your time e relaxe – quando escrevemos cartas

“É preciso ser o retrogosto na boca, ser eterno em alguma memória. Seu nome não é caju à toa”. O fim do álbum é uma carta da Liniker para Caju, certo? Vale cada sílaba, ler, ouvir, reler, escutar com calma e saborear a pele do Caju. Onde ouvir TAKE YOUR TIME E RELAXE da Liniker? Aqui

A fã por trás da análise de escrita poética do álbum Caju

Entrevista com Liniker em uma cobertura de festival em Sorocaba

Sim. Sou fã da Liniker desde os Caramelows. Uma das oportunidades que minha profissão já proporcionou foi a de entrevistar Liniker nos bastidores de um show aqui em Sorocaba – inclusive com a participação da Tássia Reis, maravilhosa. Ela ainda nem estava maquiada (desculpa, Queen!), mas não podia perder o momento de tirar uma foto com minha musa compositora ❤️

Uma das perguntas que fiz foi entender se ela não pensava em lançar um livro com suas letras. Na época, a resposta foi: quem sabe? Bom, se isso vai virar realidade – não sei! Só sei que, se o livro acontecer, estarei no lançamento para abraçar de novo essa gênia das palavras e, quem sabe, renovar nossa foto 🥹

TODO O MEU AMOR POR CAAAAAAAJUUUU 🧡 o pseudofruto que amarra não só a boca, mas o corpo todo. Tem suco, tamanho, sabor, textura e muita poesia!

 

Para escrever, claro que ouvi CAJU. Aproveite as faixas completas e em ordem neste link tipo uma cromoterapia!🎧

Um abração!

Gabi :)

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